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VOZ ESTUDANTIL: TRABALHANDO A MEMÓRIA ESCOLAR A PARTIR DO JORNAL


 

Memória, PIBID, História Local.

 

LEPH - Revista Me Conta Essa História Jan. 2020 Ano I Nº 001 ISSN - 2675-3340 UFJ.

 

Por Fernando Alencar, Pedro Frazão, Jessica Costa


[1] Graduando em História pela Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí (UFG/REJ), Jataí, Estado de Goiás.

[2] Graduando em História pela Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí (UFG/REJ), Jataí, Estado de Goiás.

[3] Graduanda em História pela Universidade Federal de Goiás, Regional Jataí (UFG/REJ), Jataí, Estado de Goiás.

 

RESUMO


Esse trabalho tem como intuito apresentar as atividades, experiências e aprendizados adquiridos no PIBID, realizados no Colégio Estadual Frei Domingos, localizado na periferia da cidade de Jataí. Atentos ao debate acerca da demolição do antigo prédio, dificultando assim a constituição de sua memória escolar, esse projeto surge a partir da necessidade de pensar a construção arquitetônica para além de tijolos e cimentos, traçando uma identidade referente a história local através do colégio. Com a disponibilidade da instituição Escolar em produzir um jornal estudantil, os Pibidianos viram nessa ação a possibilidade de relacionar a Memória Escolar, o conhecimento-emancipação e a História Local, demonstrando como o conhecimento histórico pode perpassar por esses diferentes lugares.

 

O colégio Frei Domingos tem seu nome em homenagem ao Frei Domingos Foley, padre franciscano que se muda para a cidade de Jataí em 1961. Originalmente localizado na Rua Benjamin Constant, no Bairro Campo Neutro. Mesmo que hoje não permaneça em seu local de origem, se trata de um dos colégios mais antigos da cidade, que agora se encontra em um espaço alugado, pois o antigo espaço foi interditado e demolido em 2011. A escola conta com atendimento ao Ensino Fundamental e Ensino Médio, além da modalidade de ensino Educação de Jovens e Adultos (EJA), sendo única unidade de ensino em funcionamento nessa região da cidade.


Para refletir sobre a relação da memória escolar com os processos pedagógicos estabelecidos através do Plano Político Pedagógico da escola em que se propõe o conhecimento emancipatório, dialogamos com Santos (2000), que define a prática do conhecimento-emancipação, privilegiando o cotidiano escolar como um momento de compartilhar experiências vividas, memórias e histórias que são construídas, criando assim a identidade escolar. Por sua vez, para a constituição da memória escolar pensada pelos Pibidianos através da relação do conhecimento-emancipação, se torna necessário que essa (re) constituição da memória escolar seja realizada pelos próprios alunos da instituição, cabendo aos Pibidianos a orientação e articulação do projeto, além de auxílio nas escritas das colunas do Jornal.


Com relação à memória e identidade escolar do Colégio Frei Domingos, a história local é vista aqui como uma base essencial. E no âmbito do conhecimento emancipatório que valoriza as experiências do cotidiano da comunidade escolar, refletimos também sobre a necessidade de obtermos outros entendimentos de história, esta que por vezes é fundamentada no eurocentrismo, e para isso nos utilizamos do pensamento de Marta Rovai, que afirma:

A História Oral, parceira da História Pública na tentativa de se fazer ouvir quem tem tanto a dizer e é ignorado pela indiferença social, ganha papel especial em demonstrar que toda história merece ser contada, compartilhada, pensada. Isso não se reduz a escavar histórias ainda não registradas apenas por serem “boas de serem contadas” como curiosidades, como se pode observar em certar produções no país. Não é mera espetacularização para ganhar audiência, para revelar o exótico, para ganhar dinheiro transformando vidas em entretenimento. Implica, outrossim, respeito às comunidades, com apresentações formais, clareza de objetivos, negociação constante, construção de caminhos coletivos, sem simplificar seus problemas e reduzir suas histórias a pares dicotômicos ou a problemas que nós, historiadores, antevemos antes mesmo de conhecer. (ROVAI, 2018)

Além das dificuldades da escola em estabelecer uma memória escolar, visto que houve a demolição do seu prédio como aqui já citado, era preciso pensar a participação estudantil na organização e gestão da escola, bem como na (re) constituição da memória escolar. Nesse sentido, foram as necessidades notadas pelos Pibidianos que construíram o alicerce de nossa participação e relação com a escola.


Após o contato com a escola, e o interesse da mesma na produção de um jornal, decidimos adaptar o projeto, e relacionar com os conceitos de memória escolar, conhecimento-emancipação e história local com a produção de um jornal que parte da construção dos alunos. Participam do projeto de confecção do jornal, de modo particular, os alunos do ensino médio, interessados na participação e desenvolvimento desse trabalho.

Tais alunos deveriam, por questões de serem suas memórias escolares que buscávamos trabalhar, estar organicamente na produção de tal jornal, sendo também os responsáveis por decidirem quais matérias publicar e quais os rumos que o jornal tomaria.


Inicialmente contamos com a participação de cinco alunas do 2º ano do ensino médio. Essas estudantes logo de início já se interessaram com o projeto que possibilitasse a ampliação das vozes dos estudantes, que segundo as próprias, de certa forma, se encontravam silenciadas devido a inúmeras questões ligadas ao próprio funcionamento das instituições de ensino de forma geral. De acordo com elas, era importante a existência do jornal para que casos, recorrentes, de machismo, racismo, homofobia ou quaisquer preconceitos, por exemplo, pudessem ter um lugar para serem desconstruídos e desencorajados.


As reuniões para elaboração do jornal com essas estudantes foram muito importantes. Eram estudantes do ensino médio que estavam dispostas a desenvolver um projeto complexo que se propunha a pensar a própria realidade vivida. Nesse ponto fomos também alimentados por muitas histórias. Foram encontradas muitas fotos antigas, e até um blog online com diferentes informações.


A dinâmica de construção do jornal se deu a partir dessas reuniões, onde levamos fotos do antigo colégio, textos como sugestões de matéria, e outras informações para que pudéssemos discutir juntamente com as alunas a melhor forma de se construir o jornal.

Pensamos inicialmente em criar cinco colunas principais, que sempre irão aparecer no jornal acompanhada de outros assuntos que seriam trazidos pelos estudantes. Essas colunas são: Comunidade Fala (Onde seriam abordados temas do dia a dia dos alunos e da comunidade que os mesmos vivem), Lutar: Verbo Feminino (Onde tentamos tirar o foco histórico do personagem masculino, mostrando personalidades históricas femininas de destaque), Meio Ambiente (Onde daríamos destaques aos inúmeros descasos recentes com o meio ambiente de forma geral), Universidade na Escola (Nesta coluna daremos destaque aos principais projetos da Universidade a serem realizados na Escola) e Projetos na Escola (Aqui daremos destaque aos principais projetos realizados por professores ou alunos da Escola).


Ainda em relação à elaboração do projeto, também foi de fundamental importância o interesse da instituição escolar na produção de um jornal que vinculasse as notícias do colégio. Nesse ponto, é importante o reconhecimento de instituições que promovam atividades vinculadas aos seus próprios Projetos Políticos Pedagógicos, inclusive fora dos ambientes de classe, e reconheçam a importância de um aprendizado além dos momentos de aula.


Apesar de as atividades aqui supracitadas ainda estarem em desenvolvimento, podemos vislumbrar alguns pontos interessantes a partir das experiências no PIBID. Notadamente o Programa de Iniciação à Docência financiado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Nível Superior (CAPES) possibilita um enorme espaço de aprendizado aos graduandos de Licenciatura em História, bem como um enriquecimento também ao colégio que venha a ter vínculos com o projeto, pois tais conhecimentos advindos do programa agem em forma de trocas de aprendizagem.


O exercício de pensar as atividades sob conceitos como memoria escolar, nos permitiram estabelecer um vínculo como a comunidade escolar como um todo, principalmente com as estudantes. Desenvolver tais projetos partindo de ideias como o conhecimento-emancipação, tornou a elaboração do jornal um instrumento, que além de ampliar as diversas vozes dos estudantes do Colégio, também é um espaço de (re) constituição da memória escolar e, por conseguinte afirmação de uma identidade.

 

COMO CITAR ESSE ARTIGO


ALENCAR, Fernando; COSTA, Jessica; FRAZÃO, Pedro. Voz Estudantil: Trabalhando A Memória Escolar A Partir Do Jornal. In:. Revista Me Conta Essa História, a.I, n.01, jan. 2020. ISSN 2675-3340. Disponível em: <https://www.mecontaessahistoria.com.br/post/voz-estudantil-trabalhando-a-mem%C3%B3ria-escolar-a-partir-do-jornal> Acesso em:

 

REFERÊNCIAS


ABREU, Regina; CHAGAS, Mário. Memória e patrimônio: ensaios contemporâneos. DP & A, 2003.


GUIMARÃES, Manoel Luiz Salgado. História, memória e patrimônio. Universidade e lugares de memória. Rio de Janeiro: UFRJ, Fórum de Ciência e Cultura, Sistema de Bibliotecas e Informação, p. 38, 2008.


ROVAI, Marta G. O. Publicizar sem simplificar: o historiador como mediador ético. In:

História Pública em Debate: patrimônio, educação e mediações do passado. ALMEIDA, J. R; MENESES, Sônia. (Org.). São Paulo: Letra e voz, 2018.


SALVADORI, Maria Ângela Borges. História, ensino e patrimônio. Araraquara, SP: Junqueira & Marin editora, 2008.


SANTOS, Boaventura de Sousa Santos. A crítica da razão indolente contra o desperdício da experiência. S. Paulo: Cortez, 2000.

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